domingo, 21 de agosto de 2011

Legião Urbana 1

Hoje aqui no garimpo
O som punk no Brasil

 
Capa do LP Legião Urbana 1. 1985. EMI/Odeon.

   Este é o primeirão da banda que viria a se tornar a principal do gênero punk-rock do país. Eu sempre tive uma predileção muito grande por este gênero musical. Gosto dos londrinos Johnny Rotten e do Sid Vicious, que lá pelos idos de 1977, com suas bandas, Sex Pistols e The Crash, unidas a outras mais, da mesma localidade ou não: Ramones, Dead Kennedy's, Iggy Pop, por exemplo, arquitetaram ou ajudaram a consolidar o irreverente jeito musical adotado pelo movimento anarquista de contracultura. Apesar de alguns dizerem  não ter sido bem assim, e, sim, que a identidade sonora e alguns gestos vieram com as polêmicas canções  tocadas e atitudes deslanchadas pelos músicos do Velvet Underground, do conceituado Lou Reed, lá nos anos 60 do século XX, lá em New York.


   O som do punk brasileiro não tem berço exato e nem identidade única, às vezes é possível ouvir uma levada bem pesada de três acordes marcando uma melodia rachada trazendo na letra mensagens inconformistas no disco de uma banda cuja a essência de seu acervo rotule-a como uma banda de heavy metal ou de reggae. Paulistas e brasilienses disputam a primazia. Eu fico com a segunda referência, em função do fenômeno de introspecção na mídia da banda Legião Urbana!
   Devemos lembrar que o que define algo ou alguém como a fazer parte da ideologia punk não é estritamente o som que faz ou o modo de se pentear; muito menos o fato de se sair por aí sem tomar banho e cuspindo em tudo que se vê pela frente. Menos ainda se define um atributo punk por aquela besteira de se formar gangues e sair a perseguir seus, ditos, oponentes, a fim de lhes dar uma surra sem propósito e atormentar a sociedade com a graduação da violência gratuíta. Estes só querem atenção e tão somente querer atenção é algo medíocre demais para ser punk.

O punk Bob Cuspe e Rê Bordosa, personagens do paulistano Angeli.


   Punk é uma ideologia: um indivíduo inconformado com a sua situação social, com a escravidão que sofre perante a burguesia ou com o poder que a religião exerce sobre os povos, tomando decisões mesmo na vida de pessoas que pouco querem saber disso, e que por conta da inconformidade age a tentar desmantelar o sistema que o agride é punk. Talvez ele não seria um punk completo se tiver como preferência musical o som do Chitãozinho e Xororó. Isto porque o punk ganhou um som específico. Só por isto! De modo que se ele tem a postura certa e escuta o som certo, mas usa o cabelo a la Roberto Carlos na Jovem Guarda ele não o deixa de ser porque a ideologia reza: "seja você mesmo". Alguém que faça algo não muito bem feito mas por si próprio, sem copiar ou criar versão, também está dentro da doutrina porque ela também diz: "faça você mesmo".


   No Brasil, muita gente ofereceu ao público obras completas ou faixas em álbuns que remetem ao turbinado gênero musical. Tenho conhecimento de alguns como o Joelho de Porco, o Made in Brazil, Cólera, Ratos do Porão, Aborto Elétrico, Inocentes, Detrito Federal, Garotos Podres, Ira!, Plebe Rude, Capital Inicial, os gaúchos dos Replicantes e as bandas mineiras Os Meldas, Último Número e Sexo Explícito, da qual saiu o John do Pato Fu... ufa! Ainda falta muito! Mas o que faz a gente lembrar de todo mundo mesmo é a Legião Urbana, mais precisamente seu primeiro disco, que é exclusivamente punk. Depois a Legião começou a entrar nas pirações de seu lider, Renato Russo, e engatou músicas de diversos gêneros em sua obra.

A formação da Legião Urbana em 1985: 
Renato Russo, Renato Rocha, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá.

Alguns acreditam que a banda deveria ter permanecido no circuito não-comercial se quisesse se manter honestamente vinculados ao movimento. Realmente, cair no comercial você tem mais público, mais venda de discos, mais venda de ingressos para shows, mas paga o preço da perda de identidade, parcial ou total.
 
 As letras das canções deste disco me ensinaram muita coisa. Principalmente a canção "Geração Coca Cola", que pegou pesado ao falar dos enlatados americanos, que atravessei uma década devorando sem resistência e criando profundo carinho. E não dei de mão deles, não consegui até hoje. Mas daí para frente não curti mais nada do estrangeiro. Não assim, gratuitamente, com tanta facilidade. Engajei na causa do "cuspir de volta o lixo em cima de vocês" e me tornei um grande apoiador da arte nacional e desmantelador de sistema. Fazendo a minha parte apenas, é claro!
   Entrei numa de ver tudo quanto era lançamento do cinema nacional que aparecia. E olha que os filmes brazukas daquela época nem faiscavam os de hoje em qualidade técnica, direção e roteiro. Comprei discos e marquei presença nos shows de todas aquelas bandas brasileiras que apareceram naquela época.
   Eu me achava um pouco politizado e inconformista, bem consciente do panorama que vivíamos no Brasil daquela época. Mas eu descobri que estava enganado. Comecei a deixar de ser colono e dar de mão de coisas como reivindicar marcas de jeans ou tênis por pura influência da publicidade. Lutar contra o arbitrarismo da Moda faz parte do ideal punk.
   E essa mudança de comportamento, para mim, veio após contato com idéias que comecei a entender ouvindo este disco. Interessante: tem até uma música do Ira!, da mesma época, que tem este nome: mudança de comportamento.
   Quanto às músicas, as minhas preferidas são Perdidos no EspaçoSoldados , que era como um hino militante antiguerra, conduta que naqueles tempos de guerra fria seduzia bastante a juventude que procurava uma causa para marcar sua geração; Será, que foi um imenso hit e que começa com um riff parecido com a introdução da música Just Like Heaven, do The Cure, remetendo ao som dos gringos para trazer os ouvidos brasileiros para prestigiar o produto nacional; Ainda é Cedo, com aquele contrabaixo que, embora peculiar, me lembra sempre New Years Days do U2 e o efeito do distorcedor usado nas guitarras, tipo o empregado em algumas músicas da banda de punk rock americana Dead Kennedys, que também dá a entender como a fazer novo uso da iniciativa de se adestrar os ouvidos e ganhar a preferência do ouvinte tupiniquim de punk rock; Baader-Meinhof Blues fala sobre o grupo formado por ex-nazistas que combatia o  imperialismo americano, que era apoiado pelo estabelecimento alemão, da Alemanha dos anos de 1970; Além da música que não ficou muito conhecida na ocasião, mas que virou hit quando foi gravada pela Cássia Eller: Por Enquanto, no álbum da Legião esta faixa é considerada a melhor música de fechamento de um álbum de todos os tempos.

As faixas do disco
01. Será
02. A Dança
03. Petróleo do Futuro
04. Ainda é Cedo
05. Perdidos no Espaço
06. Geração Coca-Cola
07. O Reggae
08. Baader-Meinhof Blues
09. Soldados
10. Teorema
11. Por Enquanto


Geração Coca-Cola 
(Renato Russo)
Intro: (B D A B D A)
B
Quando nascemos fomos programados
D         A          B
A receber o que vocês nos empurravam
                  D         A
Com os enlatados dos U.S.A. de 9 ...s 6
B
Desde pequenos nós comemos lixo
D       A
Comercial e industrial
B
Mas agora chegou nossa vez
          D                     A
Vamos cuspir de volta o lixo em cima de vocês
B         A            G
Somos os filhos da revolução
B                     G
Somos burgueses sem religião
B      A        G
Somos o futuro da nação

refrão
A D B A D B
Geração Coca-Cola, geração Coca-Cola
A D B A D B G A
Geração Coca-Cola, geração Coca-Cola

B
Depois de vinte anos na escola
D        A
Não é difícil aprender
B
Todas as manhas de seu jogo sujo
D            A
Não é assim que tem que ser?
B
Vamos fazer nosso dever de casa
D           A
E aí então, vocês vão ver
B
Suas crianças derrubando reis
        D                      A
Fazer comédia no cinema com as suas leis

B          A           G
Somos os filhos da revolução
B                     G
Somos burgueses sem religião
B      A        G
Somos o futuro da nação

refrão
A D B A D B
Geração Coca-Cola, geração Coca-Cola
A D B A D B
Geração Coca-Cola, geração Coca-Cola

Fonte de pesquisa: site do fã clube oficial http://www.legiaourbana.com.br/

No blog O Pino Aberto há uma matéria com parte deste conteúdo que remete aos anos 80 através de várias citações: http://opinoaberto.blogspot.com/2010/11/nos-sulcos-do-vinil-o-divisor-de-aguas.html

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