domingo, 31 de julho de 2011

Chacrinha trouxe a buzina

Salve, salve, senhoras e senhores, e rapaziada em geral! 

A partir de hoje, o Garimpolândia reprisará textos criados para o blog O Pino Aberto. Tão logo terminemos as postagens feitas em colaboração com este blog, começaremos posts inéditos, cujos conteúdos se caracterizarão por apresentar pesquisa aprofundada sobre um item do nosso garimpo, recheada de links para downloads, quando possível, vídeos e ou áudios embutidos e imagens que compartilharemos com os interessados.

Vídeonostalgia
 Trechos dos programas da era Bandeirantes e Globo anos 80;
Introdução do documentário As Chacretes; Breve biografia do Chacrinha
.
Nos velhos tempos havia... 

CHACRINHA

"Eu vim pra confundir, não pra explicar." 
"Na TV nada se cria, tudo se copia."
"Quem não se comunica se trumbica."
 (Frases marcantes do Chacrinha)

  O genial "velho guerreiro", como era chamado o comunicador pernambucano José Abelardo Barbosa de Medeiros, o primeiro dos comunicadores do Brasil, apresentava um programa de rádio de dentro de uma chácara, em 1942, na rádio Clube, de Niterói, o Rei Momo da Chacrinha,  inicialmente, Cassino da Chacrinha, posteriormente, que, por ser bastante animado e inovador, despertou, em 1957, o interesse da televisão brasileira, aonde foi parar, na TV Tupi, primeiramente como uma participação em um programa humorístico, o Rancho Alegre, protagonizado por Mazzaropi, Geni Prado e João Restiff (Rancho; chácara. Qualquer semelhança é mera coincidência?), e não mais deixando esta mídia, pois a atuação notável  do proficiente radialista levou à criação de um programa só seu: a Discoteca do Chacrinha. O primeiro de vários programas, em várias emissoras, que iria comandar em toda a sua carreira, levando seus apetrechos, entre eles seus trajes alegóricos, que remetiam ao folclore nordestino, seus bordões, suas bailarinas suavemente trajadas e sua buzina, que foi inspirada em um seriado pastelão de humor da tv americana, os irmãos Marx,  da década de 1930, e era a sua marca maior e significava o terror para os calouros que tentavam a sorte de cantar em seu programa sem ouví-la.
   Esse mote fez com que o show de tv se tornasse o mais popular da década de 1960 no Brasil e,  com que, em 1968, recebesse um novo nome: Buzina do Chacrinha, na TV Globo. Como estamos tratando de tempos difíceis para a cultura brasileira do ponto de vista da liberdade de expressão, muitos destes atrativos foram alvos de acompanhamentos da censura do Regime Militar que regia o país.
  Para a platéia, no auditório, o terror era representado pelos objetos que Chacrinha despejava: calcinhas,  abacaxis, todos  pioneirizados pelo bacalhau das Casas da Banha.
   Chacrinha trouxe para o mundo do entretenimento brasileiro ao chamar pela "Terezinha, uuuuuuh!", um de seus bordões, ou ao lançar suas marchinhas de Carnaval  sarcásticas, porém, bem humoradas, que mexiam com os brios da sociedade ao focar a sexualidade ("Olha a cabeleira do Zezé"/"Maria Sapatão"), muita animação carnavalesca e muita fantasia. E põe fantasia nisso!
   Eram distintos os jurados que Chacrinha escolhia para ajudá-lo a definir sua pergunta obrigatória "vai para o trono ou não vai", alguns fixos e inesquecíveis como a Elke Maravilha, outros marcaram presença em suas participações como Carlos Imperial, Aracy de Almeida, Rogéria, João Kleber  o humorista que lhe fazia imitações , o cabeleireiro Silvinho, Sônia Abrão, o pernambucano irritadiço Pedro de Lara, Petrúcio Melo, que certamente classificava o programa com o seu  "ispicizê", e o ex-rei momo Edson Santana, que fazia a vez do temido e rabugento, sempre a dar notas ruins para os calouros e a receber vaias da platéia. Periodicamente, artistas do plantel da emissora em que trabalhava ajudavam a compor o corpo de jurados, muitos deles viam como uma oportunidade de projeção na mídia.
   Suas dançarinas, as chacretes, que por conta de seus charmes e da sensualidade espalhada pela sugestão de suas vestimentas, foram muito prestigiadas pelo público e por homens de influência e do meio artístico e deram origem a uma constante nos programas de auditório. As chacretes (antigas tevezinhas) eram um atrativo à parte, algumas ficaram famosas, atuaram ou tiveram participações em filmes no cinema, como Pixote (1981), Aluga-se Moças e Aventuras de um Paraíba, ambos de 1982: Índia Amazonense, Lia Hollywood, Leda Zeppelin, Daisy Cristal, Fátima Boa Viagem, Gracinha Copacabana  as três últimas tiveram boa exposição no programa por terem sido, também, assistentes de palco , posarem para revistas masculinas, entre elas a revista Homem n.28 de novembro de 1980 que contou com várias chacretes  a encantadora Sarita Catatau teve uma só sua em 1983  e ou gravaram discos, como Rita Cadillac  era impossível perdê-la dançando o tema da Pantera Cor-de-Rosa , Fernanda Terremoto e Suely Pingo de Ouro. Outras chacretes que ficaram conhecidas: Índia Portira, Bia Zé Colméia, Cristina Azul, Estrela Dalva, Sandra Matera, Gracinha Portelão, Baby, Beth Boné. Cambalhota, Chininha, Cleópatra, Elvira, Elza Cobrinha, Érica Selvagem, Esther Bem-Me-Quer, Geni, Gláucia Sued, Gleice Maravilha, Lucinha Ti-ti-ti, Marlene Morbeck, Mirian Cassino, Pimentinha, Regina Polivalente, Rosane da Camiseta, Rosely Dinamite, Sandra Pérola Negra, Sandra Veneno, Sandrinha Radical, Soninha Toda Pura, Valéria Mon Amour, Valderez, Sandra Avião e Ana Maria. Em 2009, em função do lançamento do filme Alô Terezinha sobre o Chacrinha, o canal Brasil exibiu um documentário denominado As Chacretes focando apenas as dançarinas.
   Outra particularidade dos programas apresentados pelo velho guerreiro era a motivação dos artistas que ali se apresentavam, cuja chamada ao palco sempre era precedida de um "vamos chamar" e completada com o "o maior...do Brasil". A exemplo daqueles que apareciam no juri, muitos deles buscavam projeção e ou introspecção na mídia. O programa foi, desde sua criação, um grande celeiro, principalmente de nomes da MPB. Um dos mais marcantes era o cantor Sidney Magal, classificado como "o terror das chacretes" pelo dono do espetáculo  embora eu me lembre de ter visto a chacrete Daisy Cristal, minha favorita, passar apertado certa vez com o Cauby Peixoto, em meio à platéia, que a havia tirado para dançar; foi uma cena tão engraçada, devido ao ímpeto do cantor em simular (ou tentar) um beijo e da dançarina em se esquivar que eu nem esperei mais pelas propagandas para rir com o comercial do conhaque de alcatrão São João da Barra ou a que trazia, em desenho animado, o jingle "lava lava lava lava\com sabão Português" enquanto o Cristo Redentor era ensaboado, isto na época da Buzina na Bandeirantes. Grande review!
  Havia também os concursos, fora o de calouros. Estes, nem sempre aconteciam sem que o concorrente tivesse que enfrentar uma situação incômoda, representada pela fala ou por uma atitude infeliz de um jurado  ou, até mesmo, do apresentador  ou pela própria natureza do concurso. Chacrinha descobria no palco seres antagônicos como o homem mais feio do Brasil e a estudante mais bonita.

Cronologia na televisão
1956 - Rancho Alegre, na TV Tupi,
1957 - Discoteca do Chacrinha. TV Tupi\TV Rio.
1968 - Buzina do Chacrinha e Discoteca do Chacrinha. Tardes de domingo e noites de quarta-feira na TV Globo.
1972 - Buzina do Chacrinha na TV Tupi.
1978 - Buzina do Chacrinha e Discoteca do Chacrinha. Terças e sábados à noite na TV Bandeirantes.
1982 - Cassino do Chacrinha, nas tardes de sábado na TV Globo.

Homenagens
1987 - Título de professor honoris causa da Faculdade de Cidade;
1987 - Desfile da Escola de Samba Império Serrano com o tema Com a boca no mundo, quem não se comunica....

Desde os anos 60, Chacrinha aparece em publicações de todo tipo (Intervalo, Manchete, O Cruzeiro, Amiga, etc.) relatando os bastidores de seus shows e fez participações em filmes para o cinema, com destaque para o cult  da Jovem Guarda, Na Onda do Iê-iê-iê, de 1966, em que ensaia seu programa A Hora da Buzina para a TV Excelsior.

Fontes de pesquisa:
Biografias do UOL Educação
Canal Brasil - Especial As chacretes. Link para todos os espisódios.
Comunidades do Orkut. Link.

Acervo de vídeo pessoal:
Programa completo do Cassino do Chacrinha 1987.
Arquivo N - Chacrinha. Globo News.
Por Toda Minha Vida: Chacrinha. Rede Globo.

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